“Vou lhes dar um conselho que eu mesmo segui desde a juventude e só me fez bem: Se você está assoberbado de problemas, dívidas, doenças, dramas de família, despreze tudo e se concentre ainda mais nos estudos e na oração. Enquanto tudo em volta desaba, você vai ficando dia a dia mais forte. Quem dura mais, vence. É só isso.”
Estudos e oração. Não tive o privilégio de ter sido aluno de Olavo de Carvalho, que morreu hoje, e confesso que não li o tanto quanto gostaria de ter lido de suas obras publicadas, mas o pouco que acompanhei sua vida nos últimos anos me mostrou seu foco em estudo e oração e, convenhamos, não existem bases mais sólidas sobre os quais edificar uma vida.
Num mundo cada vez mais histérico, com paixões cada vez mais descontroladas, hedonista, que troca de cônjuges e ideologias com a mesma facilidade com que se troca de roupas e que busca preencher o vazio existencial e encontrar significado e propósito à vida em coisas, um homem que se predispõe a apontar e guiar outros por um caminho superior, caminho este que busque Deus e o desenvolvimento intelectual, é alguém digno de honra e, neste caso, que certamente fará falta.
Enquanto o Brasil e o mundo pensavam que comunista não existia mais, que era “conto de fadas”, teoria de conspiração ou história macabra para assustar crianças porque os Estados Unidos haviam vencido a Guerra Fria, ele alertava, nas suas aulas, palestras, conferências, entrevistas e publicações sobre o perigo que o comunismo não apenas ainda representava à época, mas que ainda o seria por muitos anos.
Foi quem, décadas atrás, alertou que os comunistas estavam entrando nos jornais, nas universidades, nos centros estudantis, tomando a educação e formando as novas gerações, que seriam seus militantes, conquistando, assim, o Brasil em poucas décadas sem dar um tiro sequer. Olhe para o Brasil e veja se ele estava errado.
Enquanto Lula se apresentava como o “pai dos pobres”, a voz do trabalhador e o filho do Brasil foi Olavo quem o desmascarou e alertou o Brasil sobre sua parceria com Fidel Castro para fundar o Foro de São Paulo.
E, infelizmente, ainda não entendemos a gravidade da situação. Ainda pensamos que vencer uma eleição resolverá o problema, todo o problema, mas não pensamos no resto da equação. Não é de cima pra baixo (ou seja, colocar um presidente ou um prefeito e tudo abaixo se resolve), mas de baixo para cima: começa na sala de aula com quem ensina nossas crianças e o que ensina; começa dentro de casa, com que livro temos em nossas prateleiras e cabeceiras, que programas e filmes assistimos ou se, de fato, buscamos ser a semelhança de Jesus; começa com o agente público que não se vende, mas busca cumprir a lei e ser servo da verdadeira justiça.
Sobre sua missão de vida, Olavo certa vez escreveu que “só havia um meio – difícil e trabalhoso, mas realista – de mudar para melhor o curso das coisas neste país, e esse curso não passava pela ação político-eleitoral. Era preciso seguir, “sem parar, sem precipitar e sem retroceder”, como ensinava o Paulo Mercadante, as seguintes etapas:
- Revigorar a cultura superior, treinando jovens para que pudessem produzir obras à altura daquilo que o Brasil tinha até os anos 50-60 do século passado.
- Higienizar, assim, o mercado editorial e a mídia cultural, criando aos poucos um novo ambiente consumidor de alta cultura e saneando, dessa maneira, os debates públicos.
- Sanear a grande mídia, mediante pressão, boicote e ocupação de espaços.
- Sanear o ambiente religioso — católico e protestante.
- Sanear, gradativamente, as instituições de ensino.
- Por fim, elevar o nível do debate político, fazendo-o tocar nas realidades do país em vez de perder-se em chavões imateriais e tiradas de retórica vazia. Esta etapa não seria atingida em menos de vinte ou trinta anos, mas não existe caminho das pedras, não há solução política, não há fórmula ideológica salvadora. Ou se percorrem todas essas etapas, com paciência, determinação e firmeza, ou tudo não passará de uma sucessão patética de ejaculações precoces.
Esse é o projeto a que dediquei minha vida, e do qual os artigos que publico na mídia não são senão uma amostra parcial e fragmentária. Imaginar que fiz tudo o que fiz só para criar um “movimento de direita” é, na mais generosa das hipóteses, uma estupidez intolerável.”
Por isso a busca por Deus e intelecto: a combinação dos valores cristãos e um intelecto desenvolvido. Não há nada mais poderoso no mundo do que alguém semelhante a Jesus, é por isso que buscam tanto nos afastar de Deus e de tudo aquilo que nos torne mais intelectual. Para que estudar literatura se você pode assistir BBB?
“O que neste país se chama de ‘debate político’ é de uma miséria intelectual indescritível, que por si só já fornece a explicação suficiente do fracasso nacional em todos os domínios: economia, segurança pública, justiça, educação, saúde, relações internacionais etc.”
Irromper o país com estudiosos, pensadores e jovens inspirados por livros clássicos do cânone ocidental e um desejo sincero de constituir uma elite intelectual e encontrar a unidade da consciência talvez seja um dos únicos bens culturais realizados na nossa história recente. Talvez seja o maior bem cultural da nossa história recente.
“De todos os bens humanos, a inteligência – e inteligência não quer dizer senão consciência – se distingue dos demais por um traço distintivo peculiar: quanto mais a perdemos, menos damos pela sua falta. Aí as mais óbvias conexões de causa e efeito se tornam um mistério inacessível, um segredo esotérico impensável. A conduta desencontrada e absurda torna-se, então, a norma geral.”
Como cristão me envergonha ver um homem simples como Olavo levar mais pessoas ao cristianismo do que um pastor ou um padre, grosso modo. Talvez seja um alerta para os pastores se preocuparem menos em abrir uma filial em Miami e mais em viver, de fato, o cristianismo e inspirar outros a te seguir.
“O problema não é se eu acredito em Deus, mas se Deus acredita em mim.
A realidade de Deus é para mim uma evidência invencível, na medida em que Deus se identifica com a infinitude metafísica que é o fundamento de toda realidade possível. As pessoas hoje em dia têm alguma dificuldade de compreender isso porque se deixaram enganar por falsas lógicas (como a de Georg Cantor, por exemplo) e acabaram por perder todo sentido da infinitude metafísica.
A resposta de Miller significa que nossa vida é uma história escrita tanto por Deus quanto por nós mesmos, e que no enredo você corre o risco de escolher o papel de farsante, de mentiroso, de vigarista. É importante ter ideias verdadeiras, mas isso não é tudo. É preciso também viver no verdadeiro, isto é, não fingir que você sabe o que não sabe, nem que não sabe aquilo que sabe perfeitamente bem. Se você não é fiel a essas duas exigências, sua vida é uma mentira e o conteúdo pretensamente verdadeiro de seus pensamentos não é senão uma parte da farsa total – aquela parcela de verdade de que a mentira precisa para se tornar mais verossímil. Aí Deus não pode acreditar em você, porque, no fundo, você não existe”.
Um crítico humilde disse certa vez: “discordo demais do Olavo, mas ele converteu tantas pessoas, que é impossível não ver uma atuação divina na sua vida”.
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